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Minicursos

Jornada de debates: encontros com a Filosofia "comunicação, crença e ação pelas redes: há lugar para a filosofia?" 


        A XIII Jornada de debates: encontros com a Filosofia e X Encontro de iniciação científica em filosofia da UENP oferecerá quatro minicursos, divididos nos dias 04 e 05 de novembro, como forma de continuidade das discussões acerca da temática geral do evento, qual seja, "comunicação, crença e ação pelas redes: há lugar para a Filosofia?". 

           Os minicursos serão transmitidos via Google Meet e os links poderão ser encontrados nas descrições disponíveis logo abaixo*. É válido lembrar que a escolha de um minicurso é de caráter obrigatório no preenchimento do formulário de inscrição do evento e a presença no minicurso escolhido é fundamental para garantir a certificação. 


* os links serão disponibilizados apenas no dia de transmissão dos minicursos.


CRONOGRAMA DE MINICURSOS 


Dia 04/11, quarta-feira

Minicurso I (14h00) 

O problema da alienação da consciência, da figuração do outro e do futuro da sociedade capitalista na Era Digital a partir do pensamento de Karl Marx   

Prof. Me. Joanir Fernando Ribeiro (UENP)

Link Google Meet: https://meet.google.com/hcw-brqa-uxa

Resumo: Na medida em que o capital se desenvolve, desenvolvem-se, também, as ciências de um modo geral, a mecânica, a robótica, a biologia, a química, as ciências da computação, a matemática entre outras, que vão lentamente substituindo o trabalho vivo da classe trabalhadora por inventos tecnológicos dos mais variados. Os indivíduos da classe trabalhadora são negados na dimensão de suas múltiplas habilidades e virtudes físicas. Seus corpos são reificados, tornados objetos, coisas. Esse desenvolvimento tecnológico leva, para além da criação de maquinaria que substitui o trabalho mecânico, também, para a produção de uma maquinaria muito mais desenvolvida, que é totalmente automatizada, ou seja, que realiza movimentos, executa operações com uma consciência artificial, substituindo então, também o intelecto vivo da classe trabalhadora. Por exemplo a criação dos softwares que possuem uma inteligência artificial que é racional, lógica, matemática e que operam como um cérebro da máquina. A maquinaria se torna então uma unidade, de corpo mecânico e cérebro. Os indivíduos da classe trabalhadora são negados na dimensão de sua subjetividade, de sua consciência. Seus intelectos são reificados, tornados objetos desnecessários, descartáveis. Diante desse processo de desenvolvimento tecnológico, os indivíduos da classe trabalhadora são cada vez mais deslocados para o lado da máquina. Tornam-se por completo em objetos, como peças substituíveis de uma engrenagem de produção. Ou seja, não são nem os sujeitos da produção, nem a matéria e tampouco intermediários desse processo produtivo. A classe trabalhadora se torna apenas uma espécie de guardiã da máquina, um supervisor, que limpa, repara, substitui as peças danificadas da máquina. Diante do avanço desse desenvolvimento tecnológico nas relações capitalistas de produção, chegamos a duas questões fundamentais: A primeira é qual seria o papel do trabalho nesse mundo em que a classe trabalhadora é posta como um apêndice da maquinaria, ou seja, com um papel não essencial na produção? A segunda é qual seria a consequência de uma total automatização do processo produtivo, que elimine totalmente o trabalho vivo do interior das fábricas em geral, e não apenas de uma ou outra fábrica? Complementando, o que aconteceria com o capitalismo, com as relações sociais e, no geral, com a atual forma de sociedade? Em outras palavras, qual seria a consequência da mecanização, automatização, robotização, não só para a produção industrial, mas, também, para as relações interpessoais mediadas pelas máquinas? Pensando nessas questões fundamentais, o objetivo desse curso é buscar possíveis respostas a partir das obras de Karl Marx, sobretudo o texto manuscrito, não publicado em vida pelo próprio autor, intitulado “Fragmentos sobre a Maquinaria”, presente na coleção de textos manuscritos intitulados Grundrisse. Nesse texto Marx pensa sobre a etapa desenvolvida e madura do capitalismo e da consequência do sistema da maquinaria, do sistema de produção mecanizado e automatizado, para a vida do capital.

Palavras-chave: Marxismo. Capitalismo. Alienação. Relações Sociais. Tecnologias.

 

Minicurso II (16h00) 

"É verdade, eu vi na internet!": A filosofia de Peirce como combate às fake news

Prof. Me. Renan Henrique Baggio (PUC/SP e UENP)

Link Google Meet: https://meet.google.com/zzc-zwhy-uib

Resumo: A veiculação exacerbada de informação através das redes, impulsionada pelas mais variadas fontes de emissão, tornou confusa a delimitação precisa entre verdadeiro e falso em relação ao conteúdo compartilhado. Para além do campo político no qual tal discussão está mais presente, deve-se pensar com clareza as implicações epistemológicas e semióticas emergentes desse fenômeno proveniente das novas tecnologias, sobretudo comunicacionais. Frente a essa tarefa, o objetivo desse minicurso é compreender a filosofia de Charles S. Peirce (1839-1914), mais especificamente seu Falibilismo, como aliada de peso na busca e combate das fake news, ou ainda, fatos alternativos. Partiremos, para tanto, de uma análise das formas de fixação das crenças propostas pelo autor, quais sejam, tenacidade, autoridade, a priori e científica, de modo a demonstrar como apenas o método científico apresenta constante diálogo semiótico com o mundo, isto é, assume em suas representações a natureza objetora do real. Veremos, a partir daí, como o conceito de realidade, levantado por Peirce, se enfraquece enquanto alicerce ontológico quando posto em disputa com as disparatadas fake news. Diante dessa ruptura, um novo método de fixar crença aparece: a tendência prévia em acreditar que algo é verdadeiro ou falso, somada a enxurrada de informações direcionadas que reforçam o teor daquilo que se quer acreditar, produzem crenças infalíveis, que, mesmo diante de um fato que as contradiga, permanecem inabaladas, pois encontram fatos alternativos nos quais se fundamentar. É diante desse cenário que devemos lembrar do Falibilismo proposto por Peirce: todas as nossas concepções e afirmações acerca do real, por mais seguras e fundamentadas, são falíveis, podendo se mostrar falsas no futuro. Não há, de modo algum, conhecimento absoluto. A atitude falibilista permite enxergar na semiótica, enquanto ciência dos signos, uma ferramenta de análise dos fatos cujo elemento de maior importância para compreensão do real é o objeto do signo e a conduta que a sua compreensão fomenta. À luz dessa perspectiva, a filosofia, sobretudo a peirciana, passa a ser atividade urgente em tempos de expansão informacional, pois visa a conduta correta frente à afirmação de que os fatos são evidenciados pelo objeto e não pela interpretação que deles é feita. 

Palavras-chave: Falibilismo. Fake news. Semiótica. Crença. 



Dia 05/11, quinta-feira

Minicurso V (10h00)

Computadores podem pensar?

Prof. Dr. Diogo Henrique Bispo Dias (UENP)

Link Google Meet: https://meet.google.com/rfi-cvgg-oku

Resumo: É frequente no mundo da ficção científica a imagem de um mundo em que as máquinas superaram os humanos, que se tornam escravos de sua própria criação. No entanto, muitos acreditam que o desenvolvimento tecnológico das últimas décadas significa que este cenário apocalíptico é cada vez menos fictício. Se antes a vantagem do computador parecia restrita a realizar procedimentos mecânicos de modo mais rápido e mais seguro do que os humanos – como calculadoras e máquinas em uma montadora, por exemplo – , o receio agora é que computadores estejam cada vez mais próximos da habilidade de pensar. Atualmente, um computador simples é capaz de ganhar uma partida de xadrez ou Go contra os melhores jogadores do mundo. Há computadores capazes de criar textos coerentes sobre diversos assuntos; pinturas e músicas de diferentes estilos e, até mesmo, ao que parece, de criar uma linguagem que somente outro computador seria capaz de compreender. Para muitos, seria, portanto, uma questão de tempo para a criação de computadores pensantes.  Frente a este cenário, o objetivo deste minicurso não é responder à pergunta “computadores podem pensar?”, mas evidenciar que antes mesmo de tentarmos responder essa questão, é preciso explicitar dois âmbitos fundamentais desta discussão que geralmente são negligenciados. Por um lado, quando se analisa o estágio atual da pesquisa sobre Inteligência Artificial, é possível ver que ainda estamos longe de criar uma máquina que consiga simular o comportamento de um ser humano, mesmo em tarefas muito básicas. O outro aspecto desta discussão é de ordem puramente filosófica e, portanto, mais fundamental que o primeiro. Se limitarmos nossa atenção à capacidade de pensar, há uma pergunta fundamental que precisa ser respondida antes de determinar se um computador pensa ou não, a saber: ainda que exista um robô capaz de simular o pensamento de um ser humano, isso significa que este robô é capaz de pensar? Veremos que esta, e outras perguntas relacionadas a esta, constituem um nível de investigação filosófica anterior a qualquer tentativa de responder se computadores pensam ou não. Ademais, veremos que estas questões são, em certo sentido, independentes dos resultados técnicos obtidos na área de computação e inteligência artificial e, portanto, jamais serão resolvidas meramente pela construção de computadores “melhores”.

Palavras-chave: Inteligência artificial. Pensamento. Filosofia da mente. 


Minicurso III (14h00)

O papel da Informação e do Interpretante Lógico na mudança de crença 

Prof. Dr. Alexandre Augusto Ferraz (UNICAMP)

Link Google Meet: https://meet.google.com/mxb-trad-upq


Resumo: O objetivo deste minicurso é apresentar uma interpretação para o papel da informação e do interpretante lógico, caracterizados a partir da filosofia de Charles Sanders Peirce (1839-1914), na formação e mudança de crenças. A partir de seu famoso texto The fixation of belief (1877), podemos elaborar algumas hipóteses que explicitam possíveis relações entre as noções de hábito e de crença para concluir como nossa conduta é fortemente determinada por nossas crenças. Diz o autor que crenças guiam desejos e moldam ações. Assim, o sentimento de crença é um indício, em certo grau seguro, de encontrarmos na nossa natureza algum hábito que determina nossas ações. Nesse contexto, a dúvida pode ser caracterizada como um estado de desconforto do qual buscamos nos livrar em direção a um estado de crença, tranquilo e estável, que não desejamos dele nos afastar: neste estado de crença em geral nos fixamos tenazmente de modo a manter a estabilidade que a dúvida poderia abalar ao causar desconforto emocional e físico. No entanto, uma mente científica, aquela que é capaz de aprender com a experiência, ao se defrontar com uma crença que pode parecer não condizer com o objeto que ela representa, é uma mente que, a despeito do desequilíbrio causado por uma compulsão externa, busca modificar o próprio hábito que se relaciona à crença. Essa modificação é possível somente por meio de uma autocrítica deliberada (ver, por exemplo, Savan 1988, p. 58), em um nível lógico de “segunda intenção”, isto é, por um pensamento que é capaz de pensar suas próprias crenças. Para atingir esse nível, é necessário um grau de genuinidade representativo que só é alcançável (i) no nível do interpretante lógico, caracterizado como um pensamento que é capaz de resultar na modificação dos próprios hábitos, (ii) bem como por meio de captação de informação do meio, cuja integridade do processo se dá justamente no interpretante e, sobretudo, em um nível de segunda intenção. Assim configurado o processo representativo, nossa hipótese é a de que a modificação das crenças (e dos hábitos a elas relativos) pode resultar em uma melhor adequação entre representação e realidade, de maneira com que nossa conduta seja concernente ao objeto e não aos nossos próprios desejos e vontades.

Palavras-chave: Crença. Hábito. Informação. Interpretante lógico. Peirce.


Minicurso IV (16h00)

O processo de personalização em tempos hipermodernos: vazio, sedução e as novas estratégias do individualismo moderno 

Prof. Me. Thiago Pelogia (UENP)

Link Google Meet: https://meet.google.com/vws-qggu-gdn


Resumo: Desde a segunda metade do século XX somos testemunhas de uma intensificação constante nos fluxos de circulação, seja de informações, mercadorias, condutas. A ideia de que vivemos em uma era da aceleração e o sentimento de que afundamos dia após dia nessa crescente de fluxos são paradoxalmente paralelos a uma ideia de que nada importa e um sentimento de vazio, de esgotamento. Este minicurso intenta colocar tal problemática cara aos nossos tempos sob as lentes de Gilles Lipovetsky (1944), em uma análise crítica que busca discutir a relação aparentemente paradoxal entre o excesso e o vazio típica das nossas sociedades. O fio condutor de toda investigação será a concepção do individualismo moderno tal como proposta pelo filósofo francês, ideia central em sua obra que nos permite pensar as mudanças de comportamento dos indivíduos nas sociedades ocidentais a partir dos anos 1960. Para tanto, nos debruçaremos inicialmente sobre três ideias fundamentais no pensamento de Lipovetsky: o processo de personalização, fenômeno indissociável da modernidade e que é determinante no modo de operação do individualismo moderno; o vazio, traço característico do individualismo em tempos hipermodernos, condição de apatia cool frente aos grandes discursos; e a sedução, dispositivo de agenciamento que ganha centralidade a partir da segunda metade do século XX e que permite uma forma de engajamento mais estético e passional do que ideológico. A partir desse aparato conceitual buscaremos pensar os modos de engajamento que ocorrem no âmbito das novas tecnologias, em consonância com o processo de personalização que ali se faz presente, identificando algumas rotas dos fluxos de circulação que operam no vazio por meio da sedução. Colocando a relação excesso/vazio sob essa perspectiva, identifica-se tal relação como parte constituinte da segunda fase do individualismo e, consequentemente, da segunda fase da modernidade ocidental, isto é, como estratégia necessária por meio da qual o individualismo e a modernidade se perpetuam sob a forma do hiper.

 

Palavras-chave: Processo de personalização. Vazio. Sedução. Individualismo.

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